Localizada entre os municípios de Ribeirão Claro, no Nordeste do Paraná, e a cidade paulista de Chavantes, a ponte pênsil Alves Lima faz parte do que se considera uma raridade arquitetônica. O Brasil tem apenas mais dois exemplares desse tipo de pone, a Hercílio Luz, em Florianópolis (SC), e a de São Vicente (SP). Apesar disso, a Alves Lima não ganhou a fama merecida. A ponte, cujos cabos ancorados sustentam o que a lei da gravidade derrubaria, chegou a ser interditada em 2006 por falta de manutenção, até que uma restauração, que durou dois anos, permitirá que ela seja entregue em dez dias, desta vez somente para pedestres. Pisar nas tábuas recuperadas é uma grande chance de entender porque uma obra que desafia a engenharia foi parar no interior do Paraná e de São Paulo.
A produção cafeeira ia de vento em popa no Norte do nosso estado na década de 1920, mas enfrentava uma dificuldade: escoar a safra até o porto de Santos. No meio do caminho havia um rio, o Paranapanema, vencido apenas com balsas. Agilizar o escoamento e torná-lo mais seguro era a ordem do dia, por isso o proprietário de uma das maiores fazendas cafeeiras que o Paraná teve, a Monte Claro, resolveu juntar forças com as prefeituras e erguer a ponte que levou o seu nome, Manoel Antônio Alves Lima. Ela ficou pronta no início da década de 1920 e ligou a cidade de Ribeirão Claro à Estação Chavantes da Estrada de Ferro de Sorocaba (SP). Ficou conhecida, no período de ouro do café, como “a ponte da salvação da lavoura”. Os momentos de glória acabaram quando São Paulo teve duas importantes revoluções que, em momentos diferentes da história, levaram parte da ponte de madeira abaixo.
Em 1924, os paulistas se revoltaram para tentar obrigar o então presidente Artur Bernardes a renunciar. “Os tenentes, responsáveis pela revolta, buscaram apoio em outros estados, como o Amazonas e o Rio Grande do Sul. No primeiro dia conseguiram expulsar o governador da capital, mas não reuniram forças suficientes para resistir às tropas leais ao governo federal”, afirma o historiador da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Jozimar Paes de Almeida. Enfraquecidos, os revoltosos se refugiaram em Foz do Iguaçu. “No trajeto da fuga, uma das hipóteses é a de que eles buscaram retardar a perseguição das tropas legalistas. Por isso, depois que passaram a fronteira, queimaram a ponte [em 1924]”, explica Almeida.
O CASO
A ponte foi reerguida em 1928, mas durou pouco. Passados quatro anos, uma outra revolução, a Constitucionalista (1932), derrubou novamente a Alves Lima. O presidente Getúlio Vargas decidiu extinguir o Congresso Nacional após desdobramentos da crise da bolsa de Nova York, em 1929, e nomeou um interventor para o governo de São Paulo. A oligarquia paulista, capitaneada pelos cafeicultores, enfrentava uma crise econômica e pediu para o governo federal convocar uma constituinte.
Sem sucesso, eles decidiram começar uma luta armada, mas se viram atacados em várias frentes por forças que apoiavam Vargas. Em 1932, tropas gaúchas (legalistas de Vargas) se reuniram em Ribeirão Claro para atacar os paulistas. “Os revoltosos, ao saberem que os gaúchos estavam aquartelados em Ribeirão Claro, recuaram e dinamitaram a ponte Alves Lima para retardar o avanço das tropas”, diz Almeida. A ponte só foi reerguida em 1936.
Uma nova tragédia, porém, derrubou a ponte pela terceira vez. Foi em 1983, quando a região assistiu à maior enchente de que se teve notícia. A obra foi recuperada novamente dois anos depois e continuou funcionando até 2006 – no meio do caminho chegou a ser queimada em um ato de vandalismo, mas os ribeirinhos conseguiram controlar as chamas. Teve de ser interditada por causa da falta de manutenção, mas agora, com o restauro, volta a dar os ares de sua graça.
*Matéria e fotos publicadas no jornal Gazeta do Povo (04/06/2011).
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