Por Rainer Sousa
Entre os diferentes povos responsáveis pela invasão do Império Romano do Ocidente, os francos destacam-se por estabelecer um governo centralizado na Europa, entre os séculos V e IX. Estabelecidos na região da Gália, realizaram um processo de conquistas e unificações que se consolidou durante o reinado de Clóvis, neto de Meroveu, primeiro rei da chamada dinastia merovíngea. Contando com a destreza militar, essa dinastia conseguiu vencer outros reinos germânicos e controlar a disputa política entre os proprietários de terra.
Empreendendo uma vitória militar sobre os alamanos, Clovis conseguiu colocar toda a região da Gália (atual França) sobre o domínio dos francos. Antes disso, em 507, com o apoio dos burgúndios, venceu os visigodos na Batalha de Vouillé. Para consagrar a unidade política dos territórios conquistados, o rei Clovis firmou alianças com os bispos da Gália. Depois da vitória contra os alamanos na Batalha de Tolbiac (496), Clovis converteu-se ao cristianismo.
Depois da morte de Clóvis, uma sucessão de maus administradores fez com que essa época ficasse conhecida pela predominância dos “reis indolentes”. As conturbações do período foram superadas durante o reinado de Clotário II, que em 613 conseguiu reunificar os territórios do reino. Para isso, distribuiu terras (condados e marcas) entre os nobres proprietários de terra. A partir de 640, grande parte das decisões políticas do reino foi repassada ao majordomo.
Esse cargo administrativo dava poderes para que um nobre tomasse importantes decisões com respeito ao palácio real. Ao longo do tempo, seu poder foi ampliado fazendo com que sua autoridade fosse maior que a do próprio rei. Em 732, o majordomo Carlos Martel organizou os exércitos contra o avanço dos mouros na chamada Batalha de Poitiers. Com a morte de Carlos Martel, o posto de majordomo foi dividido entre seus dois filhos: Carlomano e Pepino, o Breve.
Carlomano abriu mão do cargo para retirar-se em um mosteiro. Pepino, O Breve, consolidou uma aliança com o papa Zacarias para que o mesmo fosse elevado ao posto real. Dessa forma, Zacarias impôs um golpe político autorizando a prisão do rei Childerico III em um mosteiro. Pepino tornou-se o primeiro rei da chamada dinastia Carolíngia. No ano de 754, o papa Estevão II pediu para que Pepino interviesse contra os lombardos que ocupavam a Península Itálica. Vitorioso na empreitada militar, Pepino doou as terras para a Igreja, que a nomearam enquanto Patrimônio de São Pedro.
Depois da morte de Pepino, o trono da dinastia carolíngia foi ocupado por Carlos Magno em 768. Convertido à fé cristã, Carlos realizou intensas campanhas militares contra os mouros na Península Ibérica. A partir de suas vitórias dominou a região das Marcas Hispânicas, que obrigou os povos sobre o seu domínio a se converterem ao cristianismo. A máxima expansão dos territórios foi vista pela Igreja como um reavivamento do Império Romano. Por isso, no dia 25 de dezembro de 800, o papa Leão III o corou como imperador romano do Ocidente.
Carlos Magno
Ao estabelecer o domínio sobre uma grande quantidade de territórios, Carlos Magno tratou de realizar alianças capazes de sustentar a centralização política de seus domínios. Os domínios do império de Carlos Magno eram divididos em duzentos condados administrativos entre nobres e bispos. O favor político trazido pela descentralização política foi seguido por medidas fiscalizantes. Cada nobre era obrigado a prestar um juramento de fidelidade ao rei. Ao mesmo tempo, Carlos Magno criou o cargo de missi dominici, um conjunto de fiscais que mantinha o rei informado.
Outra importante ação tomada por Carlos Magno foi a criação das capitulares, conjunto de leis escritas que legitimavam o poder imperial. Essas leis tinham grande importância dentro das regiões que originalmente pertenciam ao reino dos francos. Nas novas regiões conquistadas, as tradições políticas e jurídicas eram plenamente preservadas. Substituindo o poder do papa nos territórios, Carlos Magno poderia nomear cargos clericais em seus domínios.
A estabilidade encontrada no interior do Império fez com que os centros urbanos e o comércio florescerem. As mercadorias circulavam pelo norte da Europa, convivendo com as unidades agrícolas feudais. A prosperidade econômica conviveu com uma intensa atividade cultural vivida graças à construção de escolas, igrejas e a tradução de diversas obras greco-romanas. Pedro de Pisa, Eginhard e Alcuíno de York formavam uma classe intelectual aliada ao imperador.
Com a morte de Carlos Magno, em 814, Luis Piedoso subiu ao governo. No ano de 840, Luis Piedoso faleceu deixando três filhos que disputaram a sucessão do trono. Depois de grandes conflitos, os três irmãos resolveram sua contenda com a assinatura do Tratado de Verdun, em 843. Carlos, O Calvo, ficou com os domínios da França Ocidental; Luis, O Germânico, controlou a França Oriental; e Lotário dominou a França Central.
A descentralização política dos territórios conviveu com a invasão dos normandos, que desestabilizaram o governo. O prestígio alcançado pelos nobres que lutaram contra a invasão normanda foi prestigiado pelo domínio político dos territórios. O fim do Reino dos Francos foi marcado pela dinastia capetíngia, que tinha o controle somente sobre a França Ocidental.